O cenário do mercado de trabalho brasileiro apresenta uma complexidade crescente, evidenciada pelos últimos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Em agosto de 2025, o setor formal da economia ganhou expressivas 147.358 novas vagas, um indicador que reflete uma tendência estabilizadora em um momento de incertezas econômicas. No entanto, essa trajetória positiva é, em grande parte, impulsionada por vínculos de trabalho que não se enquadram nos modelos tradicionais. Dessa forma, o mercado de trabalho segue aquecido, mas a qualidade do emprego cai, uma realidade que merece atenção e análise crítica.
O aquecimento do mercado de trabalho
Os números são promissores: o Brasil fechou o mês de agosto com um saldo positivo na criação de vagas formais, totalizando mais de 5,3 milhões de vínculos não típicos. Isso representa 11% do total de trabalhadores com carteira assinada no país, que soma cerca de 48,7 milhões. Esse crescimento é impulsionado, especialmente, pelos setores de serviços e comércio, que não apenas dominam a criação de novas oportunidades de trabalho, mas também concentram um número significativo de vínculos temporários, intermitentes ou de aprendizes.
Entretanto, essa ascensão é relativizada por uma preocupante estagnação do salário médio de admissão, que se mantém praticamente inalterado enquanto a inflação corrói o poder de compra da população. Embora a geração de empregos tenha sido consistente nos últimos meses, especialistas alertam que esse ambiente de trabalho informalizado oferece pouca segurança a longo prazo para os trabalhadores.
A ascensão das modalidades não típicas
Os contratos de trabalho não típicos têm se tornado uma realidade marcante no Brasil contemporâneo. Dados apontam que, no último acumulado do ano, 22% das novas admissões estão ligadas a modalidades como contratos temporários, intermitentes ou aprendizes. Essa modalidade de trabalho, embora formalizada, gera incertezas sobre sua efetividade em proporcionar direitos trabalhistas e segurança social aos envolvidos.
Assim, essa dinamicidade no mercado de trabalho levanta a seguinte questão: será que a formalização desses vínculos realmente representa uma melhoria nas condições de trabalho? A resposta, segundo muitos analistas, é ambígua. Especialistas advogam que esse fenômeno, que poderia ser entendido como progresso, pode, na verdade, simbolizar uma precarização sob a superficialidade de um contrato formal.
Setores em destaque na geração de empregos
Os setores de serviços e comércio não apenas dominam as novas contratações, mas também apresentam características que podem ser consideradas desvantajosas para os trabalhadores. Essa predominância é amplamente discutida por economistas que apontam que a maioria dos postos de trabalho criados está destinada a indivíduos com ensino médio completo ou incompleto.
O economista Fabio Bentes, da CNC, enfatiza o papel crucial do comércio e dos serviços, que são responsáveis por 37% dos novos postos criados. Ao mesmo tempo, se observa que a indústria e a construção civil, historicamente associadas a empregos mais estáveis e melhor remunerados, possuem um papel menos proeminente nesse contexto.
A relação entre qualidade e quantidade de empregos
O crescimento do número de vagas tem suscitado discussões sobre a qualidade do emprego. Embora o saldo acumulado de 2025 seja, sem dúvida, uma boa notícia em termos de novas oportunidades, a composição dessas vagas levanta sérias preocupações. Com o aumento contínuo dos vínculos não típicos, surge uma dúvida fundamental: essas posições oferecem segurança e estabilidade?
As pesquisas indicam que a maior parte dos novos empregos não apenas é de baixa remuneração, mas também carece de benefícios e garantias trabalhistas. O salário real médio permanece cerca de 3% abaixo do nível de 2022, se considerada a inflação, sinalizando que muitos trabalhadores estão enfrentando dificuldades financeiras.
O papel do governo e das reformas trabalhistas
A subsecretária de Estudos do Trabalho, Paula Montagner, alerta que a flexibilização dos contratos, promovida pela Reforma Trabalhista de 2017, trouxe algumas consequências indesejadas. Se por um lado essa reforma tinha como objetivo principal aumentar a formalização do emprego, por outro, tem-se observado um crescimento de vínculos que oferecem condições precárias de trabalho. O desenvolvimento de novos modelos contratuais, como os intermitentes, reflete uma mudança nas dinâmicas de trabalho que, embora possam parecer inovadoras, na prática, colocam os trabalhadores em situações vulneráveis.
Repercussões sociais e econômicas
As implicações desse cenário afetam não somente os trabalhadores, mas também a economia como um todo. A concentração de empregos em setores de baixos salários pode impactar o consumo e, consequentemente, o crescimento econômico. Se os trabalhadores não conseguirem adquirir produtos e serviços, o efeito em cadeia prejudica a economia — uma situação em que o aquecimento do mercado de trabalho não se traduz em crescimento sustentável.
Desse modo, o mercado de trabalho segue aquecido, mas a qualidade do emprego cai, criando um dilema que precisa ser resolvido. É essencial que ações governamentais e iniciativas do setor privado trabalhem em consonância para garantir que o aumento no número de vagas seja acompanhado de uma melhora substancial das condições de trabalho.
Perguntas frequentes
Qual é a principal razão para o aumento das contratações temporárias?
O aumento das contratações temporárias está ligado à flexibilidade adotada pelas empresas, que buscam reduzir custos e se adaptar rapidamente à demanda, especialmente em setores como comércio e serviços.
O que caracteriza um vínculo não típico?
Um vínculo não típico, como o contrato intermitente ou temporário, é aquele que não oferece a segurança e os benefícios tradicionais de um emprego fixo, como férias, 13º salário e seguro-desemprego.
Como isso afeta os direitos dos trabalhadores?
Esses tipos de contratos podem limitar o acesso dos trabalhadores a direitos fundamentais, diminuindo a proteção social e criando insegurança financeira.
É possível melhorar a situação do mercado de trabalho?
Sim, por meio de políticas públicas que promovam melhores condições de trabalho, regulamentação mais rígida sobre os vínculos não típicos e incentivos para a criação de empregos estáveis.
O cenário atual pode mudar no futuro?
Mudanças nas diretrizes econômicas, tanto no âmbito legislativo quanto no setor privado, podem levar a um cenário mais favorável, aumentando a qualidade dos empregos disponíveis.
O que as empresas devem fazer para melhorar as condições de trabalho?
As empresas podem investir em formação e capacitação, além de adotar práticas que priorizem a saúde mental e física dos trabalhadores, contribuindo para a construção de um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo.
Conclusão
O panorama do mercado de trabalho segue aquecido, mas a qualidade do emprego cai é uma questão complexa que merece discussão aprofundada. As modalidades de trabalho que têm se proliferado, embora contribuam para o aumento do número de vagas, não garantem a tão esperada segurança e estabilidade que muitos trabalhadores necessitam. É fundamental um esforço conjunto entre governo e setor privado para inverter esse quadro, priorizando a criação de empregos que se traduzam em qualidade, segurança e dignidade para todos.

