Desigualdade de gênero e racismo persistem


A desigualdade de gênero e racismo persistem de forma alarmante em diversas esferas da sociedade, e no mercado de trabalho não é diferente. Essas questões não apenas impactam as vidas de milhões de pessoas, mas também representam um entrave significativo no desenvolvimento econômico e social do Brasil e do mundo. A situação das mulheres no mercado de trabalho, especialmente em contextos de discriminação racial, torna-se ainda mais crítica quando observamos dados alarmantes relacionados à desigualdade salarial, à segregação ocupacional e à falta de proteção social. O XVI Seminário da Rede de Observatórios do Mercado de Trabalho, realizado recentemente sob a coordenação do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), trouxe à luz essas questões, enfatizando a urgência de abordagens eficazes para promover a igualdade de gênero e racial no ambiente profissional.

A subsecretária de Estatísticas e Estudos do Trabalho do MTE, Paula Montagner, destacou a importância de retomar discussões sobre inclusão e igualdade salarial. Essa temática é essencial, especialmente considerando que a diferença salarial entre homens e mulheres ainda persiste, revelando a face insidiosa da discriminação de gênero em ambientes corporativos. Se, por um lado, essa desigualdade é um reflexo de normas culturais profundamente enraizadas, por outro, também resulta de políticas ineficazes que falham em garantir igualdade de oportunidades para todos.

Quando olhamos para os números globais apresentados por Flávia Moura Rocha Parente Muniz, representante da ONU Mulheres no Brasil, a gravidade da situação se torna ainda mais evidente. Apenas 63% das mulheres entre 25 e 54 anos estão empregadas, enquanto essa taxa sobe para 91% quando se observa o sexo masculino. Além disso, a maioria das mulheres que trabalham em países de baixa renda está na informalidade, sem acesso a direitos trabalhistas fundamentais, colocando ainda mais em evidência a necessidade urgente de reformas que garantam proteção e dignidade a essas trabalhadoras.

A questão da informalidade é particularmente alarmante, uma vez que cerca de 2 bilhões de meninas e mulheres no mundo estão sem proteção social e dedicam, em média, 2,5 vezes mais horas a atividades não remuneradas, em sua maioria relacionadas ao cuidado. Essa desigualdade não apenas limita o potencial das mulheres, mas também gera um impacto significativo no desenvolvimento econômico e social, à medida que uma parte considerável da força de trabalho não é reconhecida formalmente. Portanto, é imprescindível que as políticas de cuidado sejam repensadas e que haja investimentos significativos nessa área, pois, segundo a ONU, isso poderia resultar na criação de até 300 milhões de empregos até 2035, com uma grande maioria sendo ocupada por mulheres.


Os desafios enfrentados pelas mulheres no Brasil, como discutido durante o seminário, refletem as tendências globais. Embora a participação feminina no mercado de trabalho tenha apresentado um aumento de 51,55% para 54,33% entre 2012 e 2019, a pandemia de COVID-19 teve um impacto devastador, reduzindo essa taxa para 52,7% em 2024. O que isso representa é uma retrocesso preocupante, revelando que a recuperação pós-pandemia tem sido lenta e que as mulheres ainda não conseguiram retornar aos níveis de emprego prévios à crise. Os dados apresentados por Cristina Pereira Viecelli, economista do Dieese, reforçam essa realidade.

Além das questões de gênero, a intersecção entre raça e gênero também deve ser considerada. As mulheres negras enfrentam as maiores taxas de desemprego e subutilização da força de trabalho. Em 2024, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) revelou que a taxa de desocupação era de 4,4% para homens brancos, 5,8% para mulheres brancas e alarmantes 9,3% para mulheres negras. Esses dados expõem uma chaga que precisa ser tratada com urgência: a combinação de preconceito racial com desigualdade de gênero cria obstáculos ainda mais intransponíveis para um grupo já marginalizado.

As disparidades salariais também são alarmantes. As mulheres negras ganham menos da metade do salário dos homens brancos, com uma média de R$ 3.964,00, enquanto um homem branco recebe, em média, R$ 8.849,00. Isso mostra que políticas para combater as desigualdades salariais são fundamentais, não apenas para promover a justiça, mas também para garantir que todas as vozes e talentos sejam ouvidos e reconhecidos no mercado de trabalho.

Outro aspecto crucial a ser destacado tem a ver com a segregação ocupacional. A presença feminina nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM) é ainda muito baixa, refletindo uma sub-representação significativa em campos que são críticos para o futuro do emprego no mundo. Estudo apresentado por Mariana Eugênia de Almeida, analista técnica de Políticas Sociais do MTE, mostrou que, embora as mulheres estejam concentradas em cursos que envolvem cuidados, a evolução em áreas de STEM tem sido praticamente nula. Enquanto em 2010 elas representavam 29,2% dos formandos, em 2022 esse percentual subiu apenas para 30,3%.

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Todos esses dados e discussões ressaltam que a igualdade salarial e a inclusão não são meros ideais, mas, sim, elementos fundamentais para garantir diversidade, melhores condições de trabalho e políticas públicas eficazes. O acesso a creches e escolas, assim como garantir que os familiares dependentes tenham acesso adequado a cuidados, é essencial para que homens e mulheres possam ter melhores condições de trabalho e, consequentemente, contribuir para o desenvolvimento da sociedade.

Desigualdade de gênero e racismo persistem — Ministério do Trabalho e Emprego

A luta contra a desigualdade de gênero e racismo é um desafio coletivo que exige a colaboração de governos, empresas e sociedade civil. O papel do Ministério do Trabalho e Emprego é fundamental nessa jornada, pois sua responsabilidade vai além da criação de regulamentações. É necessário não apenas garantir que existam leis que proíbam a discriminação, mas também que haja mecanismos efetivos para monitorar e promover a aplicação dessas leis. Isso inclui ações diretas de fiscalização, capacitação e educação tanto de empregadores quanto de trabalhadores sobre seus direitos e deveres.

Os eventos como o XVI Seminário da Rede de Observatórios do Mercado de Trabalho são criados para gerar debate e conscientização, mas é a ação contínua após essas discussões que irá assegurar mudanças significativas. Um aspecto positivo que podemos observar é que o número de países com legislações específicas contra a discriminação de gênero aumentou de 58 para 162 desde 1995, demonstrando um progresso gradual, porém, como enfatizado por Flávia, ainda é muito pouco diante da magnitude do problema.

Para que a sociedade avance de fato rumo a uma verdadeira igualdade de gênero e racial, é vital que todos estejam cientes dos problemas e das disparidades existentes e que se engajem em práticas ativas de inclusão e respeito às diferenças. Essas atitudes devem ser promovidas desde a educação básica até os círculos empresariais, onde a diversidade deve ser valorizada como uma riqueza e não como uma limitação.

A promoção de um ambiente inclusivo no trabalho, onde diferenças são respeitadas e valorizadas, é uma responsabilidade de todos. Cada um pode e deve fazer sua parte, seja promovendo uma política efetiva de diversidade, seja sendo um aliado em sua escola ou local de trabalho. Esse esforço coletivo pode criar um ambiente onde tanto homens quanto mulheres, sejam eles brancos ou negros, tenham as mesmas oportunidades.

Perguntas Frequentes


As mulheres ainda recebem salários inferiores aos dos homens?
Sim, as mulheres recebem, em média, salários inferiores aos dos homens em função equivalente. Isso evidencia a persistência da discriminação de gênero no ambiente de trabalho.

Como a pandemia afetou a participação feminina no mercado de trabalho?
A pandemia teve um impacto severo, reduzindo a participação feminina no mercado de trabalho de 54,33% para 52,7% em 2024, conforme apontado por dados do Dieese.

Qual é a situação das mulheres negras no mercado de trabalho?
As mulheres negras enfrentam uma taxa de desemprego de 9,3%, mais alta do que a taxa de desocupação de homens brancos e mulheres brancas, indicando uma desigualdade racial significativa.

Quais são os desafios enfrentados pelas mulheres nas áreas STEM?
A presença de mulheres em áreas STEM é muito baixa, com apenas 30,3% de formandos em 2022, apesar de serem majoritárias em outras áreas, como cuidados, onde enfrentam salários mais baixos.

Que medidas podem ser tomadas para promover a igualdade salarial?
Políticas de transparência salarial e fiscalização efetiva das leis anti-discriminação são essenciais para garantir a igualdade de salários entre homens e mulheres.

Como as políticas de cuidado podem impactar o mercado de trabalho?
Investimentos em políticas de cuidado podem gerar até 300 milhões de empregos até 2035, com grande parte dessas vagas sendo ocupadas por mulheres, ajudando a reduzir a desigualdade.

Compreender que a desigualdade de gênero e racismo persistem — Ministério do Trabalho e Emprego é fundamental para engajarmos todos em busca de uma sociedade mais justa e igualitária. A luta é de todos nós, e provas de conscientização e ação são passos essenciais nesse processo de transformação.

Em conclusão, o panorama da desigualdade de gênero e racismo no mercado de trabalho demanda atenção e ação urgentes. O diálogo é vital, mas é a implementação de políticas eficazes e a mudança de atitudes que farão a diferença. O futuro precisa ser de inclusão, diversidade e respeito, onde todos, independentemente do gênero ou da cor, possam contribuir e prosperar.

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